#20 | não PERCA o controle
O que um experimento de 1971/72 nos ensina sobre assumir o controle
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Imagine que você acordou em um lugar estranho. Esquisito.
As paredes são cinzas, os corredores são frios e o eco dos passos reverbera pelas paredes: um breve lembrete de que você não está sozinho.
De repente, um grupo de pessoas uniformizadas e armadas se aproxima e começa a te dar ordens. Vai pra lá. Vem pra cá. Fica ali. Come. Dorme. Silêncio!
Você, sem saber o que está acontecendo, resiste. Depois, com o tempo, passa a obedecer.
A cada dia, suas ações se tornam menos suas.
Você se molda ao ambiente e se transforma em algo que nunca imaginou ser.
Parece filme distópico ou um livro do Orwell, né?
Isso aconteceu de verdade.
Essa foi a realidade que emergiu de um dos experimentos mais controversos da psicologia: a Prisão de Stanford, conduzida em 1971 pelo psicólogo Philip Zimbardo.
Neste post, vamos bater um papo sobre:
Como o ambiente e os papéis sociais moldam nosso comportamento
Por que às vezes agimos contra nossos próprios valores e vontades
O que podemos fazer para retomar o controle de quem somos
o experimento: Prisão de Stanford
O Experimento da Prisão de Stanford tinha um objetivo simples: entender o impacto do ambiente no comportamento humano.
Como funcionou?
Zimbardo recrutou 24 estudantes universitários para simular uma prisão.
Metade foi designada como "guardas" e a outra metade como "prisioneiros".
A "prisão" foi montada no porão da universidade de Stanford, com celas, corredores e regras rigorosas.
Tudo era uma simulação, mas os participantes rapidamente se perderam no jogo.
Os guardas começaram a agir de forma autoritária, abusando verbal e emocionalmente dos prisioneiros.
Já os prisioneiros por sua vez, inicialmente resistentes, logo se tornaram submissos, desesperados e conformados.
O bizarro é que esse experimento é que deveria durar duas semanas, mas foi interrompido em apenas seis dias devido à intensidade das ações dos participantes.
(fizeram até filme sobre: O Experimento de Aprisionamento de Stanford)
2. o poder do contexto
O Experimento de Stanford revela algo que pode ser perturbador: o ambiente tem um poder quase hipnótico sobre o comportamento humano.
Byung-Chul Han (eu não sei quando deixarei de citá-lo nos meus posts, é melhor se acostumar) descreve isso em sua obra Psicopolítica, onde argumenta que as estruturas invisíveis da sociedade moldam nossas ações de maneiras que não percebemos.
Da mesma forma, Zimbardo também concluiu que as pessoas não são boas ou más por natureza.
Em vez disso, o contexto pode explorar o pior ou o melhor de nós.
“O comportamento humano é mais influenciado pelas circunstâncias externas do que pelas características internas.”
– Philip Zimbardo
Se você pensar no seu Instagram, ou em outras redes sociais, verá a semelhança.
Em um ambiente onde likes e comentários ditam o valor de uma postagem, quantas vezes você já postou, reagiu ou respondeu à qualquer coisa apenas para agradar os outros, a fim de cumprir o seu papel social?
O contexto (ou "prisão digital", nesse comparativo) molda suas escolhas de forma quase imperceptível, como Han descrevia.
3. o perigo dos papéis sociais
Um dos aspectos mais chocantes do experimento foi como os participantes internalizaram seus papéis.
Guardas se tornaram tiranos.
Prisioneiros aceitaram abusos.
E tudo isso aconteceu em poucas horas.
Por quê? Porque os papéis sociais oferecem um "guia" de como agir, especialmente em situações de incerteza.
Vamos lembrar que sua identidade é moldada pelo que você faz repetidamente.
No experimento, repetir ações tirânicas ou submissas transformou identidades temporárias em realidades.
Na vida, geralmente repetimos ações inseridos em papéis sociais que são irreais, não possuem evidência, ou são irrelevantes.
Vamos de exemplo.
A relação é uma só: aluno x professor.
Na posição de aluno, posicionei duas perspectivas diferentes:
perspectiva 1: Como aluno, devo me comportar muito bem perante aos meus professores, obedecer e acatar a tudo, caso contrário, estarei desagradando por não cumprir meu papel.
perspectiva 2: Como aluno, vou exercer respeito aos meus professores, e exigir respeito, como em qualquer relação interpessoal.
Na posição de professor, também posicionei duas perspectivas diferentes:
perspectiva 1: Como professor, tenho soberania, então posso impor o que achar válido para proteger a intelectualidade da aula e minha superioridade dentro e fora da sala.
perspectiva 2: Como professor, devo exigir respeito em sala de aula, mas igualmente exercer respeito aos meus alunos, como em qualquer relação interpessoal.
Quantas vezes você já se viu preso a um papel?
Talvez o papel do “o que resolve tudo” ou “o que nunca pode falhar”.
Papéis podem ser úteis como guias, mas quando aprisionam, te afastam de quem você realmente é, e podem ser uma gigantesca fonte de frustração.
4. o que aprendemos?
A Prisão de Stanford é um lembrete doloroso, mas necessário, de que:
Ambientes importam: Se você se sente constantemente desmotivado ou ansioso, talvez o problema não seja você, mas o ambiente ao seu redor somado ao fator de repetição.
Os papéis são armadilhas: É fácil se perder em expectativas e papéis sociais. Esse é um exercício, na verdade. Tente ser mais criterioso, e entenda quando você está agindo por obrigação social ou por autenticidade.
5. a chave da cela
Felizmente, podemos mudar a narrativa!
Eu preparei algumas práticas para evitar cair nas armadilhas do ambiente e dos papéis sociais:
1. observe o contexto
Pense no seu ambiente. Ele está te ajudando ou te prejudicando?
Caso esteja te atrapalhando, experimente mudar pequenos aspectos.
Trabalhe em um lugar diferente, elimine distrações visuais ou organize seus espaços para promover tranquilidade, coloque o celular em outro cômodo, etc. Aqui no projeto falamos sobre como moldar o ambiente em diversos post
2. redefina os papéis
Quais papéis você está desempenhando na vida?
Pergunte-se: "Esses papéis refletem quem eu sou ou o que eu acredito que os outros esperam de mim?"
3. quebre o ciclo
Adicione variações à sua rotina para evitar comportamentos automáticos.
Por exemplo, se você está sempre "disponível", experimente reservar um tempo exclusivamente para si mesmo.
4. não hesite em buscar apoio
Se perceber que está preso a um ambiente ou papel prejudicial, procure apoio de amigos, familiares ou terapeuta.
Eu tento ajudar com os textos, as pesquisas, a escrita, mas a vida é um pouco mais complicada que isso: existem certas prisões que não conseguimos sair sozinhos.
a prisão invisível
O Experimento da Prisão de Stanford nos ensina que podemos nos tornar prisioneiros de nosso ambiente e de nossos papéis. Mas, ao mesmo tempo, ele nos lembra que somos capazes de mudar.
Seja no contexto da sala de aula, do seu trabalho, ou até nas redes sociais, pergunte-se: "Estou agindo por escolha ou por imposição de meu papel social?"
No final, a verdadeira liberdade está em reconhecer a prisão, abrir a porta e decidir quem queremos ser fora dela.
O homem é o único animal que pode ser preso em uma cela invisível e não perceber que as chaves sempre estiveram em suas mãos.
– Byung-Chul Han
Para quando estiver com água na nuca
Qual foi a última vez que você percebeu que estava agindo por causa do ambiente e não por sua vontade?
Quais papéis você desempenha diariamente e como eles te ajudam ou te limitam?
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Com carinho,
Carbone.