#07 | Sedentarismo Mental: O que está acontecendo com o seu cérebro? (e como mudar isso)
Você não tem vontade de fazer mais nada. Eu sei o porquê.
Você provavelmente já ouviu alguém falar sobre sedentarismo mental, não é mesmo?
Essa é uma realidade que muitas vezes ignoramos, afinal, o sedentarismo mental não é tão perceptível quanto o físico.
Sedentarismo não é apenas sobre a ausência de movimento, é um comportamento que se infiltra em nossas rotinas diárias e modifica nossos padrões mentais. (James Levine, MD, PhD, Mayo Clinic)
Mas assim como o corpo precisa de certas atividades para se manter saudável, o cérebro também exige estímulos para funcionar de forma plena dentro da nossa estrutura cotidiana.
E é nesse ponto que estamos errando com tanta frequência.
Para compreender melhor o impacto disso no seu dia a dia, vou apresentar uma região importante do seu cérebro: o Córtex Cingulado Anterior Médio (CMA), ele desempenha um papel crucial na tomada de decisões e no processamento de informações.
Não precisa se assustar com o nome, até porque ele está bem aí na sua cabeça:
A questão não é apenas sobre movimentar-se fisicamente, mas sobre o quanto você está exercitando seu CMA e como o estilo de vida moderno pode estar atrofiando essa parte fundamental do cérebro.
O mundo hoje nos cerca de estímulos rápidos e fúteis, e nossa capacidade de reflexão profunda e resolução de problemas está sendo sufocada.
Nesse texto quero explorar como isso funciona e, o mais importante, como sair do sedentarismo mental. Falaremos sobre:
O que é o sedentarismo mental;
Como o sedentarismo mental surge.
CMA, a chave para um cérebro ativo;
O que é Sedentarismo Mental?
Você já sentiu que está apenas reagindo aos estímulos da vida ao invés de pensar ativamente?
Isso é sedentarismo mental. Mas não se desespere:
A sociedade e o mundo moderno te colocaram nesse lugar. Foi intencional. Você é mais valioso quando tem uma mente inerte, menos criteriosa, mais manipulável, e por aí vai…
O termo "sedentarismo mental" refere-se ao estado em que o cérebro não é exercitado de maneira adequada, levando à perda de neuroplasticidade e eficiência cognitiva. Nada além disso.
O problema é quando temos diversos hábitos que trabalham contra nós. As redes sociais são um exemplo (como sempre):
Imagine que você treina na academia cinco horas por dia, mas no resto do período se alimenta de ultraprocessados, alimentos gordurosos e açucarados, não ingere água suficiente, nem alimentos nutritivos. O que você acha que vai acontecer com sua saúde e bem-estar?
Pois bem:
Agora pense que seu dia é cheio de desafios, profissionais, sociais, físicos, e tudo isso vai servir como exercícios eficazes para seu CMA(falaremos sobre isso mais adiante), mas no seu tempo livre você fica grudado numa tela rolando infinitamente o feed.
Assim como o corpo precisa de um equilíbrio de hábitos para se manter em forma, o cérebro também: aqui não são estímulos físicos, mas sim estímulos mentais equilibrados.
O sedentarismo mental é extremamente comum pela superexposição a redes sociais, consumo passivo de entretenimento e falta de reflexão profunda.
Você opta pelo caminho mais simples: conteúdos de fácil consumo—o tempo todo.
Estudos indicam que o uso excessivo de redes sociais está associado a alterações na estrutura cerebral, especialmente no córtex midcingulado anterior(CMA), que desempenha um papel crucial na regulação emocional e cognitiva (Montag et al., 2017).
Como o Sedentarismo Mental Surge?
A tecnologia moderna é um grande facilitador desse processo.
Em vez de resolver problemas complexos, frequentemente optamos por soluções rápidas e estímulos fáceis, como redes sociais, aplicativos de vídeos curtos etc.
Num grau de dificuldade de consumir um conteúdo, o ser humano foi se atrofiando mediante a facilidade, por exemplo: é mais fácil consumir um filme à um livro. É mais fácil consumir um vídeo de 10 minutos a um filme. É mais fácil consumir um Reel de 12 segundos a um vídeo de 10 minutos.
(outro dia vi uma trend de vídeos de 0,8s totalmente estourada no Instagram. Isso é um pouco assustador)
“O que é mais fácil?” - sua mente pensa.
O que começa como uma facilidade torna-se necessidade a médio prazo.
A luz elétrica surgiu como uma facilidade. Hoje é uma necessidade.
O mesmo para a televisão.
O mesmo para a internet.
O mesmo para o seu Instagram ou TikTok.
Esse comportamento treina o cérebro para preferir gratificações instantâneas em detrimento de esforços mais desafiadores e recompensadores a longo prazo.
É por isso que devemos nos policiar a fim de mantermos ou aprimorarmos nosso bem-estar, saúde mental e cognitiva, incluindo no nosso dia conteúdos mais ‘difíceis' de se consumir.
O sedentarismo mental é um desafio invisível que afeta sua capacidade de pensar, resolver problemas e tomar decisões.
A boa notícia é que pequenas mudanças diárias podem reverter esse quadro.
Mantenha o cérebro ativo, desafie-se regularmente e crie ambientes propícios à concentração e foco.
A transformação começa com consciência e ação prática.
CMA, a chave para um cérebro ativo
O CMA é uma região central para nossa capacidade de 'tomar decisões difíceis' e ‘aprender com erros’.
Ele age como um ‘detector de conflitos’, ajudando a identificar quando uma ação não está alinhada com os objetivos ou regras.
"O CMA é fundamental no monitoramento de erros e no controle cognitivo, ajudando-nos a ajustar comportamentos e tomar decisões informadas (Botvinick et al., 2002)."
Quando o CMA está subutilizado, sua capacidade de avaliar alternativas e resolver problemas diminui, contribuindo para o sedentarismo mental.
O Córtex Cingulado Anterior Médio (CMA) pode ser uma chave importante para combater o sedentarismo mental por várias razões, ligadas diretamente ao seu papel no monitoramento de erros, tomada de decisões, e resposta a situações que exigem um esforço cognitivo.
Técnicas que estimulam seu CMA, trazendo benefícios cognitivos e tirando você da zona de sedentarismo mental:
Técnica 1—Resolução de conflitos:
Atividades que criam conflitos cognitivos — como resolver quebra-cabeças, tomar decisões baseadas em análise crítica, ou até mesmo enfrentar uma nova situação social — são formas de ativar o CMA, ajudando a treinar o cérebro para lidar com desafios de forma mais eficaz. Criar novas situações sociais é uma boa forma de exercitar o cérebro. Se exponha à situações desconfortáveis e novas.
Técnica 2—Regulação motivacional:
Estabelecer metas diárias que envolvam algum nível de desconforto cognitivo — como ler um texto mais complexo ou aprender algo novo — pode manter o CMA ativo e estimular uma melhoria contínua na capacidade de enfrentar tarefas cognitivas difíceis.
No Projeto 66 temos uma tarefa específica de praticar uma nova habilidade todos os dias. Se você ainda não conhece o Projeto, toque aqui para conhecer!Técnica 3—Treinamento de flexibilidade cognitiva:
Mudar rotinas cognitivas de tempos em tempos — como variar as tarefas, horários, ou métodos de aprendizado — ativa o CMA, forçando o cérebro a se adaptar a novas circunstâncias e reforçando a flexibilidade mental. Crie mudanças de ambiente, de rotina, ou estabeleça desafios que te tirem da zona de conforto (física, mental, social).
Por isso o CMA é uma das melhores ferramentas que podem ser utilizadas para sair do sedentarismo mental.
O enriquecimento ambiental e a estimulação cognitiva são essenciais para manter a plasticidade neural e a eficiência cognitiva, mesmo em idades avançadas. (van Praag et al., 2000)
Lembre-se de que crescimento cognitivo vem de nos colocarmos em situações desafiadoras e incômodas.
Ao fazer isso, cultivamos uma mente mais flexível, ativa e capaz de enfrentar os obstáculos da vida de forma mais eficaz e resiliente.
Referências
1. "Emotional processing in anterior cingulate and medial prefrontal cortex"
Fonte: Trends in Cognitive Sciences, Volume 9, Edição 6, Junho de 2005, Páginas 303-305
URL: https://doi.org/10.1016/j.tics.2005.05.011
2. "Environmental enrichment enhances neuroplasticity in aged brains"
Fonte: Nature Reviews Neuroscience, 2000
URL: https://doi.org/10.1038/35044558
3. "Cognitive control in media multitaskers"
Fonte: Proceedings of the National Academy of Sciences, 2009
URL: https://doi.org/10.1073/pnas.0903620106
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Carbone.